A Copa Verde de 2016 está próxima do seu fim. Após
vencer o Gama por 2 a 0 na primeira partida da decisão, em Belém, o Paysandu
carrega uma grande vantagem para o segundo jogo, em Brasília, e está perto do
título. Apesar do desempenho em campo, superior aos rivais, uma possível
conquista do Papão da Curuzu pode marcar mais uma página tensa da história do
futebol brasileiro: a verdade é que o Paysandu não deveria sequer ter disputado
a Copa Verde.
Antes de entendermos como o clube paraense
foi apadrinhado pelo Esporte Interativo e pelo vice-presidente da CBF Coronel
Nunes e pôde chegar à final mesmo sem ter se classificado para a competição em
campo, o Virando o Jogo vai contextualizar a história da Copa Verde e o
que aconteceu na edição de 2016.
A primeira edição da Copa Verde aconteceu em 2014 e
foi vencida surpreendentemente pelo Brasília, time sem divisão no Campeonato
Brasileiro e que não conquista o Campeonato Brasiliense desde 1987. Com o
título, o Brasília ganhou o direito de disputar a Copa Sul-Americana do ano
seguinte e não fez feio: eliminou o Goiás na primeira fase e caiu nas oitavas de
final diante do Atlético-PR, após uma derrota e um empate.
Em 2015, quem ficou com o título foi o Cuiabá, time
da Série C do Campeonato Brasileiro. A conquista, inédita para o futebol
mato-grossense, classificou o Cuiabá para a disputa da Copa Sul-Americana de
2016.
Nas duas primeiras edições, a Copa Verde foi
disputada por 16 clubes, agrupados de forma simples em um chaveamento que
começava das oitavas de final até a final. A forma de classificação para o
torneio levava em conta a posição dos times nos Campeonatos Estaduais.
Estado mais bem colocado no Ranking da CBF dentre
as federações participantes, o Pará tinha direito a três representantes.
Amazonas, Distrito Federal e Mato Grosso tinham duas vagas, enquanto os demais
estados tinham um único time na competição.
Para 2016, a apenas dois meses do início da
competição, a CBF incluiu os times goianos no torneio, aumentando o número de
participantes para 18 times e criando uma fase preliminar, disputada por quatro
equipes, antes das oitavas de final.
O problema foi que a CBF aproveitou a mudança para
alterar a forma de classificação para a competição e beneficiar clubes mais tradicionais
que não haviam conquistado a vaga através do Campeonato Estadual, incluindo o
clube de coração do Coronel Nunes, atual vice-presidente da CBF – o Paysandu.
Sem nenhuma razão aparente e sem maiores explicações, três dos 12 estados
passaram a obter vagas na Copa Verde graças ao Ranking da CBF.
Mato Grosso e Goiás tiveram direito a duas vagas:
uma para o campeão Estadual, outra para o time mais bem colocado no Ranking da
CBF. Assim Cuiabá e Aparecidense se classificaram via Estadual (o Goiás, campeão
Goiano de 2015, declinou do convite), enquanto Luverdense e Vila Nova puderam
disputar o torneio graças ao Ranking da CBF (o Atlético-GO, equipe goiana mais
bem colocada no ranking além do Goiás, também se recusou a participar da
competição).
Tanto Luverdense quanto Vila Nova não estariam na
competição se a CBF não alterasse a forma de classificação. A vaga do time de
Lucas do Rio Verde deveria ser do Operário-MT, vice-campeão Campeonato
Mato-Grossense de 2015. Já o Vila Nova, apesar de ter vencido a Série C do
Brasileiro, sequer havia disputado a primeira divisão do Campeonato Goiano em
2015.
Quem também se beneficiou e ganhou uma vaga na Copa
Verde graças à mudança no regulamento foi o Paysandu, clube do Coronel Nunes: o
atual mandatário da CBF já foi presidente da equipe bicolor e possui cadeira
cativa no conselho deliberativo do clube.
Antes da manobra, os três primeiros colocados do
Campeonato Paraense representavam o estado na competição regional. Como o
Paysandu conseguiu a proeza de terminar o Estadual de 2015 na 4ª posição, não
teria direito à vaga. Por conta da alteração, tanto Paysandu quanto Águia de
Marabá se classificaram pelo Ranking da CBF, enquanto Independente e
Parauapebas, vice e 3º colocado do Paraense, ficaram a ver navios.
Nenhuma das equipes que perdeu a vaga na “mão
grande” fez por onde reivindicar seus direitos. O Operário-MT chegou a ameaçar
a processar a Federação Mato-Grossense de Futebol, mas nada fez. Já no Pará,
tanto Independente quanto Parauapebas indicaram que iriam acionar a Justiça
Comum para reconquistar suas vagas no torneio, mas também não levaram a
história adiante.
Como se não bastasse toda essa politicagem e desrespeito
aos clubes, a edição de 2016 ainda ficou marcada por interferências do STJD,
que excluiu dois clubes da competição ao longo do torneio. Por coincidência,
mais uma vez um dos beneficiados foi o Paysandu, clube de Coronel Nunes.
Em uma das rodadas preliminares, o Águia de Marabá
enfrentou o Fast Clube, de Manaus. O vencedor se classificaria para enfrentar o
Paysandu nas oitavas de final. A equipe de Marabá goleou o Fast por 4 a 0 no
placar agregado e chegou até a disputar a partida de ida das oitavas contra o
Paysandu (vitória por 1 a 0 para o Papão), mas o STJD excluiu a equipe do
interior do Pará por escalar um atleta irregular. Assim, o Fast Clube
herdou a vaga do Águia nas oitavas de final e acabou derrotado.
Nas quartas de final, mais uma confusão envolvendo
as equipes que cruzariam com o Paysandu. Após vencer o Rio Branco-AC por 2 a 1
no primeiro jogo das oitavas, o Genus, de Rondônia, também foi excluído do
torneio pelo STJD por escalar um jogador de forma ilegal. Assim, mesmo
derrotado, o clube acreano foi quem avançou para jogar as quartas de final.
Em suma, tanto nas oitavas quanto nas quartas de
final, o Paysandu enfrentou clubes que, em campo, haviam sido derrotados por
seus adversários na fase anterior. Mesmo sem culpa em relação aos casos no
STJD, tudo que o Papão da Curuzu precisou fazer, efetivamente, para chegar à
final da competição foi derrotar o Remo na semifinal. Verdade seja dita: o
Paysandu eliminou o maior rival com autoridade, após duas vitórias no
Mangueirão por 2 a 1 e por 4 a 2. Ainda assim, o fato é que o clube não deveria
sequer estar disputando a Copa Verde e agora pode ser campeão e ganhar uma vaga
na Sul-Americana de mão beijada.
Fonte : http://www.virandojogo.com04/05/2016 – por Felipe Barros e Felipe Diuana
Nenhum comentário:
Postar um comentário