segunda-feira, 9 de maio de 2016

Janela Sport Clube



A Copa Verde de 2016 está próxima do seu fim. Após vencer o Gama por 2 a 0 na primeira partida da decisão, em Belém, o Paysandu carrega uma grande vantagem para o segundo jogo, em Brasília, e está perto do título. Apesar do desempenho em campo, superior aos rivais, uma possível conquista do Papão da Curuzu pode marcar mais uma página tensa da história do futebol brasileiro: a verdade é que o Paysandu não deveria sequer ter disputado a Copa Verde.
Antes de entendermos como o clube paraense foi apadrinhado pelo Esporte Interativo e pelo vice-presidente da CBF Coronel Nunes e pôde chegar à final mesmo sem ter se classificado para a competição em campo, o Virando o Jogo vai contextualizar a história da Copa Verde e o que aconteceu na edição de 2016.
A primeira edição da Copa Verde aconteceu em 2014 e foi vencida surpreendentemente pelo Brasília, time sem divisão no Campeonato Brasileiro e que não conquista o Campeonato Brasiliense desde 1987. Com o título, o Brasília ganhou o direito de disputar a Copa Sul-Americana do ano seguinte e não fez feio: eliminou o Goiás na primeira fase e caiu nas oitavas de final diante do Atlético-PR, após uma derrota e um empate.
Em 2015, quem ficou com o título foi o Cuiabá, time da Série C do Campeonato Brasileiro. A conquista, inédita para o futebol mato-grossense, classificou o Cuiabá para a disputa da Copa Sul-Americana de 2016.
Nas duas primeiras edições, a Copa Verde foi disputada por 16 clubes, agrupados de forma simples em um chaveamento que começava das oitavas de final até a final. A forma de classificação para o torneio levava em conta a posição dos times nos Campeonatos Estaduais.
Estado mais bem colocado no Ranking da CBF dentre as federações participantes, o Pará tinha direito a três representantes. Amazonas, Distrito Federal e Mato Grosso tinham duas vagas, enquanto os demais estados tinham um único time na competição.
Para 2016, a apenas dois meses do início da competição, a CBF incluiu os times goianos no torneio, aumentando o número de participantes para 18 times e criando uma fase preliminar, disputada por quatro equipes, antes das oitavas de final.
O problema foi que a CBF aproveitou a mudança para alterar a forma de classificação para a competição e beneficiar clubes mais tradicionais que não haviam conquistado a vaga através do Campeonato Estadual, incluindo o clube de coração do Coronel Nunes, atual vice-presidente da CBF – o Paysandu. Sem nenhuma razão aparente e sem maiores explicações, três dos 12 estados passaram a obter vagas na Copa Verde graças ao Ranking da CBF.
Mato Grosso e Goiás tiveram direito a duas vagas: uma para o campeão Estadual, outra para o time mais bem colocado no Ranking da CBF. Assim Cuiabá e Aparecidense se classificaram via Estadual (o Goiás, campeão Goiano de 2015, declinou do convite), enquanto Luverdense e Vila Nova puderam disputar o torneio graças ao Ranking da CBF (o Atlético-GO, equipe goiana mais bem colocada no ranking além do Goiás, também se recusou a participar da competição).
Tanto Luverdense quanto Vila Nova não estariam na competição se a CBF não alterasse a forma de classificação. A vaga do time de Lucas do Rio Verde deveria ser do Operário-MT, vice-campeão Campeonato Mato-Grossense de 2015. Já o Vila Nova, apesar de ter vencido a Série C do Brasileiro, sequer havia disputado a primeira divisão do Campeonato Goiano em 2015.
Quem também se beneficiou e ganhou uma vaga na Copa Verde graças à mudança no regulamento foi o Paysandu, clube do Coronel Nunes: o atual mandatário da CBF já foi presidente da equipe bicolor e possui cadeira cativa no conselho deliberativo do clube.
Antes da manobra, os três primeiros colocados do Campeonato Paraense representavam o estado na competição regional. Como o Paysandu conseguiu a proeza de terminar o Estadual de 2015 na 4ª posição, não teria direito à vaga. Por conta da alteração, tanto Paysandu quanto Águia de Marabá se classificaram pelo Ranking da CBF, enquanto Independente e Parauapebas, vice e 3º colocado do Paraense, ficaram a ver navios.
Nenhuma das equipes que perdeu a vaga na “mão grande” fez por onde reivindicar seus direitos. O Operário-MT chegou a ameaçar a processar a Federação Mato-Grossense de Futebol, mas nada fez. Já no Pará, tanto Independente quanto Parauapebas indicaram que iriam acionar a Justiça Comum para reconquistar suas vagas no torneio, mas também não levaram a história adiante.
Como se não bastasse toda essa politicagem e desrespeito aos clubes, a edição de 2016 ainda ficou marcada por interferências do STJD, que excluiu dois clubes da competição ao longo do torneio. Por coincidência, mais uma vez um dos beneficiados foi o Paysandu, clube de Coronel Nunes.
Em uma das rodadas preliminares, o Águia de Marabá enfrentou o Fast Clube, de Manaus. O vencedor se classificaria para enfrentar o Paysandu nas oitavas de final. A equipe de Marabá goleou o Fast por 4 a 0 no placar agregado e chegou até a disputar a partida de ida das oitavas contra o Paysandu (vitória por 1 a 0 para o Papão), mas o STJD excluiu a equipe do interior do Pará por escalar um atleta irregular.  Assim, o Fast Clube herdou a vaga do Águia nas oitavas de final e acabou derrotado.
Nas quartas de final, mais uma confusão envolvendo as equipes que cruzariam com o Paysandu. Após vencer o Rio Branco-AC por 2 a 1 no primeiro jogo das oitavas, o Genus, de Rondônia, também foi excluído do torneio pelo STJD por escalar um jogador de forma ilegal. Assim, mesmo derrotado, o clube acreano foi quem avançou para jogar as quartas de final.
Em suma, tanto nas oitavas quanto nas quartas de final, o Paysandu enfrentou clubes que, em campo, haviam sido derrotados por seus adversários na fase anterior. Mesmo sem culpa em relação aos casos no STJD, tudo que o Papão da Curuzu precisou fazer, efetivamente, para chegar à final da competição foi derrotar o Remo na semifinal. Verdade seja dita: o Paysandu eliminou o maior rival com autoridade, após duas vitórias no Mangueirão por 2 a 1 e por 4 a 2. Ainda assim, o fato é que o clube não deveria sequer estar disputando a Copa Verde e agora pode ser campeão e ganhar uma vaga na Sul-Americana de mão beijada.

Fonte :  http://www.virandojogo.com04/05/2016  por Felipe BarrosFelipe Diuana

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