domingo, 15 de agosto de 2010

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O Telefone
Por: Itamar Araujo Dantas
O dia amanheceu chuvoso, mas não era problema para nós porque não estávamos preocupados com que acontecia lá fora. Nosso pensamento, girando em torno do telefone, procurava fazê-lo tocar pondo fim a toda expectativa que nos envolvia. Porém, como que desafiando a nossa vontade e paciência, ele (o telefone) insistia em permanecer desligado de nós, não nos dando qualquer explicação para seu silêncio tedioso. Ele, neste momento, não lembra de que nós pagamos pela vida dele. Ingrato, dizíamos mudos. Cheguei mais perto dele, toquei em seu corpo, e ameacei espancá-lo se dentro de um minuto ele não largasse seu tedioso silêncio e me chamasse.

"Gostaria que você ficasse quieto". Essa era a frase preferida de minha mãe quando eu esperava, impacientemente, por um telefonema que custava a chegar. Mas, memo assim, não adiantava esta lembrança que sempre me confortava, porque se eu me acalmava os outros mostravam todo o nervosismo que imperava em nossa sala diante do, inescrupuloso, telefone que insistia em nos irritar.

Dessa forma não me contive, peguei o desgraçado e o forcei a falar. Que emoção me trouxe a sua voz, porque do outro lado soube que meu filho nascera. E lá fora fazia uma belíssima tarde chuvosa.

Publicada em VII Antologia de poetas e escritores do Brasil. 1992. Grupo Brasília de Comunicação.

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