Você já deve ter visto coisa semelhante, talvez aí mesmo na sua cidade. Mas há uma cidade que merece espaço para reflexão. Passo por ela algumas vezes. Numa das suas ruas há quatro lojas contíguas, separadas apenas por uma parede, todas as quatro lojas de roupas. Vendem roupas praticamente iguais, às vezes do mesmo fornecedor. Oferecem mais simpatia ou mais vantagens porque os produtos são praticamente os mesmos.
Na mesma rua há, também, quatro templos de quatro igrejas diferentes, separadas por não mais de três ou quatro metros cada uma. Apresentam o mesmo Cristo e pretendem ensinar a mesma fé, mas os fiéis de uma não frequentam a outra, enquanto que os fregueses de uma loja vão para a outra e às vezes até com recomendação da lojista vizinha; não tendo o produto elas indicam a loja ao lado. Há companheirismo ainda que competitivo.
O mesmo não fazem as igrejas. Em outras palavras: os lojistas são menos sectários que os pregadores e menos ciosos de seus fregueses. Aprenderam que a competição sadia é boa, mas o intercambio também é. Hoje eles indicam o produto de uma loja, amanhã a loja indicada apontará o produto deles.
As religiões não fazem o mesmo: é difícil um pregador aconselhar seu fiel a ir ouvir a pregação de outro, comprar o livro de outro autor. São ciosos do seu Cristo ou da sua versão do Cristo.
Soube, por vizinhos e inclusive seguidores destas igrejas que nunca aconteceu de programarem uma reunião juntas, nem mesmo um almoço. E no entanto quem prega o amor, a fraternidade, a unidade são esses templos e não as lojas…
Faz pensar o que vai pela mídia, televisão e rádio e o que vai pelos templos e pelas regiões centrais e periféricas de nossas cidades. As lojas parecem ser mais gentis e unidas do que os templos. Os comerciantes parecem muito mais capazes de diálogo do que os pregadores da fé. Aqui e acolá encontram-se pregadores ecumênicos, gentis e fraternos, abertos ao diálogo, capazes de admirar o outro. Mas não aposte em todos. Fundador de igreja nova ou novo templo quer mais é adeptos. Se puder pegar os da igreja vizinha é isso que ele vai fazer.
Prego a palavra de Deus há cinquenta anos e sei do que estou falando: a competição religiosa é muito mais forte que o cooperação religiosa. Sou dos otimistas que acha que um dia isso mudará, embora não venha a ser nos próximos dez anos. Mas há uma geração de padres e pastores dispostos a se encontrarem e dialogarem. Se eles o fizerem, seus fiéis também farão, até porque a maioria das discussões e brigas de fiéis nas ruas por causa de religião começaram nos púlpitos…
Se padres e pastores se dão bem, o povo se entende lá fora, se a pregação é deletéria, na base de igreja contra igreja; se for mentirosa, maliciosa, destruidora, deturpadora, usurpadora, demolidora e agressiva, os fiéis também serão.
Na cidade à qual me referi e naquela rua em particular, parece que os comerciantes conseguiram viver melhor o “amai-vos uns aos outros” do que os pregadores. Pelo que sei, as quatros lojas investem juntas no enfeite de natal, as igrejas, não! Quem pensa que inventei estes fatos ligue a televisão e o rádio e preste atenção nas pregações proselitistas de alguns salvadores de almas para Cristo. Falam como se só eles existissem. Jesus não iluminou a mais ninguém. Que pena!
Fonte: http://www.padrezezinhoscj.com/wallwp/archives/6709